sexta-feira, 30 de junho de 2017

PAGA SAPIENS PHILOSOPHIAE (REPOSTAGEM)

PAGA SAPIENS PHILOSOPHIAE


O mestre.


DISCLAIMER: Isto está sendo repostado por questões didáticas. Data original: 19 de março do ano de nosso Senhor de 2015.

Olá pessoal! Hoje divulgarei muitos dos segredos para ser um PSP, ou Paga Sapiens Philosophiae. Primeiro, vamos direto na definição:

Paga Sapiens Philosophiae (abrev. PSP): Maneira de conduzir-se em sociedade (ver verbete ÉTICA)  definida por uma postura forçosamente filosófica, de ares teatrais; em oposição à doutrina da autenticidade (ver verbete EXISTENCIALISMO), o PSP procura causar a impressão de ser um grande filósofo, com a intenção de parecer descolado e pegar geral (ver verbete ESTETA). Pessoas atraídas por PSPs são conhecidas academicamente como Fédon(s) ou Xantipa(s). O termo PSP foi cunhado originalmente por Lorde Camafeu (ver verbete NOUMENON) no capítulo Metaprolegômeno acerca dos Metaproblemas da Metafísica Polivalente, contido no livro Porco Tião e outras estórias, ao juntar os termos Paga Sapo  (ver verbete RACIONALISMO), Homo Sapiens (ver verbete FILOSOFIA NATURAL) e as ideias contidas na obra Consolatio Philosophiae de Boécio (ver verbete CONVERSA FIADA).

Fonte: CAMAFEU, L. Dicionário Filosófico do Prazer. Camafeu Press, Celaeno, Pleiades, 1969.


Lorde e Lady Camafeu, supervisionando a construção de uma bomba atômica. Note a presença de uma Xantipa à esquerda.


Para aqueles procurando por seus Fédons ou Xantipas perdidos na multidão, tenho boas novas. Estudei com tremendo empenho o que Lorde Camafeu escreveu sobre os PSPs e apliquei com resultados variados. Aqui vão as direções gerais.


POSTURA


-Mova-se com suavidade, dando um tom "etéreo", quase fantasmagórico, à sua presença. Calcule com precisão suas poses para que pareçam naturais.

-Pareça levemente intrigado com algo que não está no local, dando a impressão de estar perdido em profunda reflexão filosófica. Mão no queixo pode realçar o estilo geral. Coloque uma das mãos no bolso apenas se fumar e/ou a se encostar numa parede. Se quiser causar emoções conflitantes, pareça levemente irritado ou desligado do ambiente. E então sorria.

-Olhe sempre nos olhos, e ao faze-lo, não faça movimentos bruscos. Deve-se passar a impressão de que se está "lendo a alma" da pessoa, ao invés de parecer estar prestando atenção. Esse efeito se dá com leve abertura e fechamento dos seus olhos durante ênfases na fala alheia, independente do conteúdo.

-Sua vestimenta deve combinar com o tipo de pseudo filosofia empregada nas conversas. Mais precisamente, com a entonação usada para falar.


O PAPO


-Como um caçador esperando a caça, não se antecipe! Introduza aos poucos seu conteúdo pseudo filosófico, sempre com suavidade, como se todos os ouvintes tivessem sido ensinados sobre metafísica no ensino médio. 

-Afirmações levemente filosóficas e vagas são maneiras de descobrir se você tem à sua frente um Fédon ou uma Xantipa. 

-Quanto menos você tiver de explicar o que fala, melhor. A prioridade é não se enrolar com algo que não se sabe direito e além disso é necessário manter a fluidez da conversa.

-Não pareça uma enciclopédia. Isso lhe tornará inacessível. Aliás, se você parece uma enciclopédia quando fala sobre Aristóteles, as chances são muito grandes de você não ser um Paga Sapiens Philosophiae e sim um legítimo estudante de filosofia. Se for o caso, pare de ler isso e vá se aprimorar de verdade.

-Procure conduzir o clima da conversa de maneira desinteressada, evocando a casualidade de você falar pseudo filosoficamente. Apenas torne-se intenso na divagação e uso de termos mal empregados se encontrar um ouvinte interessado na baboseira. E não seja intenso demais a ponto de parecer imperioso, procure sim ser glorioso. Lembre-se, suavidade: Você não está ensinado, está flertando. 

-Evite alienar o ouvinte com guinadas extremas na conversa. A palavra "Não", usada incorretamente, pode tornar-se um "Não" para você posteriormente. O "Sim" deve ser usado também com parcimônia. Prefira continuar a conversa ao invés de concluir ou tentar impor um novo tópico.

-Sarcasmo é sadio para cimentar a pose geral, mas não exagere.

-Posicione seus conceitos os encaixando com o decorrer da conversa e não os colocando diretamente como tópico. Vai parecer que você está interrogando, atrás de uma posição do ouvinte, e não flertando. Deixe que falem naturalmente.

-Evite verdadeiros estudantes de filosofia. No melhor dos casos, você entrará num longo debate e no pior deles será desmascarado como uma farsa, consequentemente pagando caro por isso.

-No momento de começar a  efetivamente sensualizar na conversa, é importante a intensidade nos olhos e na fala. A esta altura, é recomendado cuidado com afirmações pseudo filosóficas pelo risco de se parecer piegas.


IDIOMAS


-Quanto mais você souber da língua francesa, melhor. PSPs experientes criarão maneiras aparentemente naturais para falar algo em francês e impressionar a sala. Cuidado ao cantarolar uma música francesa: você tem que se garantir no vocal e no contexto. Sussurrar em francês ao pé do ouvido costuma ser letal para Fédons e Xantipas, a não ser que tal pessoa seja francesa; se possível, seja você francês!

-Alemão é extremamente recomendado se você é Paga Sapiens Philosophiae baseado em Nietzsche. Em outros casos, evite, a não ser que a conversa seja conduzida para termos em alemão (acredite, isto pode acontecer).

-Latim e Grego devem ser usados com cautela. Se você está tentando ser um PSP do tipo gênio da academia filosófica, pode-se usar moderadamente. Encaixar uma expressão ou outra nestas línguas para arrematar uma conversa é um bom artifício; mas nunca use como pergunta (Você sabe o que é Ethos?) e sempre como vaga afirmação (Vagina era originalmente uma palavra em latim para denominar a bainha que guardava a espada do soldado romano... Oh, Roma Invicta Est...)

POWER TIP: Cuidado com o uso indiscriminado de línguas estrangeiras! Você pode se passar por um almofadinha pomposo (em nota relacionada, alguém sempre vai achar isso de um Paga Sapiens Philosophiae numa roda de pessoas, o importante é que o Fédon ou Xantipa não se sintam desta maneira em relação a você)!


CONTEÚDO


-Algumas páginas de resumos sobre autores famosos e seus principais conceitos é o suficiente. Se quiser abafar, leia com maior profundidade um autor específico, mas não a ponto de entender integralmente. Isto pode causar angústia existencial ou pior ainda, lhe colocar no caminho da filosofia.

-Outras habilidades podem vir muito a calhar dependendo do local. Dançar, cantar, tocar algum instrumento ou outras manifestações artísticas são recomendadas. Outros conhecimentos, como história, política e música também.


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Bom, este é o conteúdo básico para identificar ou ser um Paga Sapiens Philosophiae! O conteúdo avançado darei num seminário de preço exorbitante. Até mais!

quarta-feira, 28 de junho de 2017

CRASH BANDIT COUP: Piloto

CRASH BANDIT COUP: NOVELIZAÇÃO (SIC) DO EPISÓDIO PILOTO




JOGUINHOS ELETRÔNICOS!

Enquanto espero uma gorda oferta da Netflix pela minha ideia de abordar o mercado das empresas de jogos eletrônicos, decidi escrever o episódio piloto, mas em forma de conto ao invés de roteiro. Todos os nomes de personagens, jogos, da empresa e localidades são provisórios. Lá vai:

AVISO: CONTEÚDO IMPRÓPRIO E LINGUAJAR CHULO. TIRE AS CRIANÇAS DA SALA!

Crash Bandit Coup- Episódio Piloto (PRIMEIRAS DUAS CENAS)


PRIMEIRA CENA

Sacapetas Jones vislumbra da janela de seu escritório de luxo as pessoas caminhando apressadas pela rua central da cidade de Nova Porkys. Do alto da magnânima construção, parecem formigas diligentes, correndo para darem conta dos afazeres do dia-a-dia. O empresário respira fundo, e volta-se para um quadro numa das paredes: Lá está "A equipe de 87", onde figuram ele e seus antigos colegas, quando trabalhavam para a extinta Moneybag Games. Naquela época, era só um jovem entusiasmado com jogos que queria combinar entretenimento, arte e tecnologia para o público. Como o tempo passa, e como as pessoas mudam...

Ao sentar-se em sua poltrona acolchoada, saca de seu paletó um frasco metálico, contendo uísque. Este foi um dos poucos hábitos que não perdeu na caminhada corporativa, beber sorrateiramente como se pudesse a qualquer momento ser pego por seu chefe... O que é tolice, afinal ELE é o chefe agora, de sua própria empresa de jogos eletrônicos: Soldier of Fortune Gaming, ou SFG. Enquanto dá seus goles, ouve o "bip" de sua parafernália disposta à mesa. É a máquina que passa os recados de seu assistente pessoal. Antigo modelo, mas Sacapetas prefere assim... Já está perdendo o contato com as tecnologias mais recentes. Prontamente, coloca o frasco de volta ao bolso interno do paletó e aperta um botão da máquina, para falar.

-Sim?

-Bom dia, senhor Jones!; -Diz uma entusiasmada voz feminina.

-Quem é?

-Eu sou Gudomirdes, sua nova assistente pessoal! É uma honra poder trabalhar com o senhor!

-O que aconteceu com Jambolão?; Pergunta desinteressadamente Sacapetas, enquanto puxa uma planilha da pilha de papéis na mesa.

-O senhor não foi informado? Jambopetas teve uma crise nervosa no final de semana e foi afastado. Estou o substituindo enquanto se recupera.

-E quem é Jambopetas? ; Inquire o homem, absorvido nos detalhes da planilha.

-Uhm... É... Seu assistente pessoal, Jambopetas Lantejoulas, que trabalha para o senhor há dez anos... Que o senhor parece chamar de Jambolão.

Num átimo, Sacapetas amassa a planilha e a arremessa na pequena lata de lixo ao lado da mesa.

-É por isto que este vagabundo de merda não me atendeu ontem de madrugada! Onde já se viu, cagando na vara deste jeito, tão perto de anunciarmos os jogos do ano que vem!

-Cagar na vara...?

-Foda-se. Figura de linguagem. Gudomira, não é?

-Gudomirdes...

-Foda-se também. Seguinte: Demita este animalzinho de tetas imediatamente, manda a papelada ao RH e acione o Dr. Raposão, advogado da empresa, para processar Jambopetas.

-Se me permite, senhor... Processar pelo quê?

-Não interessa. Raposão vai saber pelo quê.

Um breve silêncio na linha. Sacapetas passa uma das mãos nos cabelos grisalhos e respira fundo, já levemente irritado. Finalmente, questionou:

-Foi só por isto que me chamou? Sou um homem ocupado, porra!

-Ahn... Não, não!; Respondeu Gudomirdes, tentando manter a compostura; O senhor Voldemerd precisa de uma reunião, com urgência, disse ele. Está aqui na sala de espera.

-Gudomira? ;Disse Sacapetas, numa voz sedosa.

-...Sim, senhor Jones?

-Me chame de Sacapetas.

-...Certo, senhor Sacapetas.

-Vou dizer isto só uma vez: Não deixe mais esta gente asquerosa entrar na minha sala de espera deste jeito. Gosto dela vazia e bem limpa.  Da próxima vez, manda para o RH e só marque reuniões com formulários carimbados em três vias.

-...Mas isto não torna o processo meio... Lento, senhor?

Foi o suficiente para o empresário perder a paciência.

-PORRA! MAS QUE MERDA! VEIO TRABALHAR HOJE E ESTÁ QUERENDO ME DIZER COMO EU DEVO MANDAR NA MINHA EMPRESA?

-Me... Desculpe... ;Respondeu a pobre jovem, já sacudida emocionalmente.

Outro silêncio na linha. Sacapetas toma um gole rápido de uísque e acende um cigarro antes de falar novamente.

-... Perdão, me alterei um pouco. Esta época do ano é muito estressante.

-Certamente, senhor.

-Mais algum recado?

-Sua esposa ligou, senhor...

-Ah, é, tenho uma dessas. ;Resmunga para si.

-O quê?

-Esqueça, mande o Valdermerd entrar.


SEGUNDA CENA


Uma reunião tranquila.

Minutos depois, Voldemerd, o chefe do projeto Ninja's Dogma, uma das franquias de sucesso estabelecidas pela empresa, entra no escritório. Sacapetas imediatamente o desdenha com os olhos, por estar vestido com um suéter e calças jeans.

-Senhor Sacapetas, que felicidade falar com o senhor.; Inicia Voldemerd, sem qualquer emoção na voz.

-O sentimento é mútuo. Agora, chega de me enrolar e me diz o que é.

-Bom, recebi as diretrizes para o Ninja's Dogma 4 e creio que temos um problema; Explica Voldemerd, gesticulando de maneira incompreensível; E é algo que pode nos custar caro.

-E o que eu tenho a ver com isso?

-Pela política da empresa, o senhor ainda é o diretor geral de todos os projetos, então tenho que passar a informação nestes tempos de crise; Diz, franzindo a testa.

-Qual é a crise?

-Não podemos fazer o mesmo jogo quatro vezes. O Ninja's Dogma pode ter sido revolucionário, mas suas duas sequências são basicamente o mesmo jogo com alguns gráficos alterados. Já recebemos muitas reclamações do público.

-E por acaso você é do departamento que lida com isso?

-Não, não sou pago para mentir sobre os jogos ruins, sou pago para fazer os jogos ruins. Se fizermos o mesmo jogo de novo, vamos acabar matando a franquia.

-Não diga bobagens. Essa gente estúpida engole qualquer coisa que tenha o nome Ninja's Dogma.

-Senhor, isto é sério! Precisamos...

-Tá, tá. Eu sei. Você não é o primeiro que me fala isto.

-Que bom que o senhor compreende. É necessário desenvolver novas mecânicas, talvez até experimentar uma engine nova. Mas para isso precisamos de gente, tempo e dinheiro.

Sacapetas levanta de sua poltrona, e dá alguns passos pela sala com uma das mãos ao queixo, como se contemplasse algo. Finalmente, para à frente de sua enorme janela, de costas para Voldemerd. Balança a cabeça positivamente. Um raio de esperança cruza o rosto do diretor do Ninja's Dogma. Eventualmente, o chefe da SFG vira-se e diz:

-Absurdo. Eu sei o que fazer.

-E o que vamos fazer? ; Pergunta Voldemerd, decepcionado.

-Você ouviu falar daquele jogo que não saiu da fase de projeto, o Pirate Bonanza?

-Sim, um jogo de pirataria com navios e comércio marítimo, de estratégia em tempo real. Ouvi dizer que não saiu do projeto por existirem jogos muito melhores sobre o tema, que são dez anos mais velhos. O que tem ele?

-Usa a mesma engine do Ninja's Dogma. Copia o que tem desse projeto abandonado para o Ninja's Dogma 4, muda os gráficos dos navios, chama de Ninja's Dogma 4: Japan Pirates e manda produzir.

-Não é tão fácil assim, senhor... ;Tenta começar a negociar Voldemerd; Teremos que colocar pessoal novo para...

Sacapetas soca a mão na mesa, o que faz Voldemerd dar instintivamente uma passo para trás.

-Eu te pago para que seja fácil assim. Você tem três meses para me apresentar um demo com nosso titular ninja pulando de navio em navio e fazendo pirataria no mar do Japão para colocarmos na feira mundial de jogos. Vão achar incrível, inovador, barroco, divino, soberbo, clássico, santo já. Poderemos produzir mais uns três jogos iguais ao Ninja's Dogma original, pelo menos, até eu ter que pensar em alguma bobagem nova.

-O senhor... Só pode estar louco. ;Balbucia o diretor do Ninja's Dogma, incrédulo.

-Ora, todos os grandes estão fazendo isto, meu ingênuo Valdermerd. Os jogos são muito parecidos com o cinema, agora: Vendemos uma marca. Exploramos até não conseguirmos mais, fazemos um "reboot" e depois voltamos a fazer a mesmíssima coisa de antes, ad infinitum. Aquela empresa japonesa tem feito o mesmo jogo do pedreiro Iugoslavo que salva uma princesa no castelo de um crocodilo gigante por quantas décadas, agora? Paralelamente, os filmes do sabre brilhante mágico com samurais futuristas vestindo sacos de arroz já vende bonecos faz quase meio século e só querem mais disso.

-Um louco e um gênio... O que será de nosso público?

-Quem se importa? Você tem que se importar com o seu salário, e eu com as ações da empresa. Por acaso você nasceu ontem, Valdermerd? Se quer tentar fazer algo inovador, vá virar desenvolvedor independente.

-Para o senhor comprar o estúdio e me demitir? Não, obrigado, todos sabemos o que aconteceu com a equipe do jogo Demon Exu MacArthur.

-Ótimo. De tarde eu passarei lá no seu departamento para discutirmos microtransações e outras maneiras de arrancar dinheiro dos jogadores. Agora te manda.

-Senhor, tem outras coisas que eu preciso discutir...

-Não me incomode, merda. Eu tenho uma reunião numa zona com vloggers e jornalistas de jogos para combinar o quanto pagaremos pelas boas resenhas e gameplays.

-Mas são sete da manhã...

-Essa raça, assim como você, não transa e não tem dinheiro, Valdermerd. Eu poderia marcar às quatro da manhã durante uma tempestade que eles viriam correndo, com os pintinhos deformados de tanta punheta na mão. VAZA!

Com isto, Voldemerd deixa o escritório do chefe, contendo suas lágrimas de raiva. Sacapetas respira fundo e diz para si mesmo, enquanto sorve o que resta do frasco de uísque:

-Mas que merda. Como é difícil arranjar gente eficiente hoje em dia. O que é que eu preciso fazer para conseguir umas boas dúzias de oficiais nazistas para trabalhar nesta empresa?

Seria só um sonho?


(FIM DA SEGUNDA CENA)

Com certeza vai ser um hit na Netflix! O episódio piloto inteiro será um sucesso.