sábado, 29 de maio de 2021

CONTOS ILLUMINATI PARTE 2

CONTOS ILLUMINATI 

PARTE I


II: O COMEÇO DO MEIO




Brito Camacho.


Um cliente desesperado. Uma Webnamorada desaparecida. Tudo apontava na direção de um caso sem complicações. Já conseguia visualizar a coleta do pagamento assim que eu desmascarasse a tal "garota", de nome Annie May, como a pilantra que era. Meus instintos diziam que não passava de uma golpista pútrida dos confins mais depravados da internet, se é que era uma mulher em primeiro lugar. Uma vez na grande rede de informações e com o preparo adequado, qualquer pessoa pode ser... Qualquer outra pessoa.

Mas as complicações começaram no momento em que o cliente, Dalton Fitzpeter, deixou o meu escritório. Mal virei as costas para checar meu computador de trabalho quando escuto gentis batidas na porta. Achei estranho, pois a maioria dos casos eram combinados por telefone ou e-mail antes de uma entrevista propriamente dita e não lembrava de nada adicional marcado para aquele dia. Atendi o chamado e deparei-me com uma bizarra figura. Tomado pela estranheza não consegui emitir qualquer palavra, o que fez aquela pessoa tomar a inciativa.



Golgotha Raventears


-Bom dia, sensei.; Disse ele, com um inquietante sorriso de canto de boca.

Algo não estava certo. Não sei se era pelo homem de meia-idade maquiado como a arara de estimação da morte ou pela voz forçada que lembrava um adolescente tentando falar grosso.

-O que quer aqui, senhor...?

-Golgotha. Golgotha Raventears. Acredito que você seja o sensei Camacho?

-Sim, sou Camacho. Brito Camacho. Mas não sei desta história de "sensei".

-Vai me fazer implorar para estudar, sensei? Como nos antigos filmes de kung-fu? Se for o caso, cairei de quatro aqui mesmo.

O pica-pau das trevas imediatamente foi de joelhos ao chão emitindo um "ai!" desafinado e agarrando minhas pernas. Atrás dele, com a porta do escritório aberta, pude ver o corredor do prédio. Na frente da minha firma de detetive particular existia um consultório médico. Era o final do expediente e pude ver a recepcionista, Rodriga Loverjoice, nos encarando com um misto de surpresa e repulsa. Que rebordosa.


Rodriga Loverjoice.

-Sensei! Sensei! Me aceite, Sensei!; Gritava escandalosamente a escabrosa figura pendurada em minhas calças, balançando a cabeça para frente e para trás.

Demorei semanas para conseguir firmar uma conversa de elevador com Loverjoice e já havíamos tomado um café juntos no botequim da esquina. Estava tentando juntar coragem para convida-la a sair uma noite dessas... E agora este periquito de coveiro estava pondo tudo a perder. Antes que a situação se agravasse ainda mais, puxei Golgotha pelo colarinho e o arremessei para dentro do escritório. Quando fui falar com Loverjoice, ela já havia tomado o elevador. Sentindo uma das veias na minha testa prestes a explodir, tentei acalmar-me para não lançar os punhos no trevoso. Ainda bem que conhecia os segredos do módulo da Calma Transcendental.

-Escuta aqui, palhaço...

-Palhaço não!; Interrompeu-me Golgotha, levantando-se rapidamente num kip up; -Os góticos e os palhaços são inimigos naturais. Não me confunda com uma destas bestas.

-Tanto faz. Aqui é uma firma de detetives e estou ocupado com um caso. Não sou sensei de nada.

-N...Não??; Raventears parecia genuinamente chocado; Mas na internet digitei "academia de Pa-Kua" e este lugar aparecia como a primeira sugestão, completa com seu nome, Camacho.

-Deve ser um engano, nada mais. Mas por curiosidade me diga, pelo seu kip up você já parece saber de artes marciais. Alguma razão especial de procurar Pa-Kua?

-Sabe o que é, Camacho? Nós góticos somos odiados e incompreendidos...

-Ah, entendo; Adiantei-me; Você quer aprender a se defender de ameaças físicas com uma verdadeira arte marcial.

-É que atualmente as pessoas não estão nem aí para os góticos. Ninguém quer fazer bullying comigo, acham minha roupa até chique. Mas o poder da nossa tribo vem da incompreensão e ódio, como falei. Nos torna mais fortes, nos dá uma reserva de poder místico. Pensei que se fizesse Pa-Kua, o bullying recomeçaria e eu me banharia mais uma vez na energia do escárnio alheio.


Pa-Kua.

-... Fora daqui. Agora.

-Uuuh, sensível. Sabe, Camacho, você daria um bom gótico. Já até sabe Pa-Kua. Posso recomendar um álbum do The Cure para você?

-Fora!

Com o papagaio da escuridão longe do meu escritório eu poderia trabalhar tranquilo. Mas uma coisa não saía da minha cabeça. Minha firma estava constando como uma academia. Então me bateu, tal como um soco de uma polegada. Imediatamente liguei para o comissário Mountbatten que informou o que eu já temia: O "Cagador Misterioso", facínora que depredava escolas de Pa-Kua, havia fugido da cadeia tempos atrás.

A relação era clara. Eu o prendi. Ele queria vingança. Marcou meu lugar de trabalho como uma academia para ter o prazer de invadir e cagar na minha mesa.

Isso não ficaria assim. Eu estava um passo a frente e defenderia o escritório não com socos e pontapés, mas com Vigilância. Vigilância foi o nome que dei ao meu fiel três oitão, que imediatamente puxei da gaveta e municiei.

Decidi não voltar para casa. Eu trabalharia no caso Annie May durante a noite toda e ficaria de tocaia caso o "Cagador Misterioso" desse as caras.

Oh, e por Deus, como eu queria que ele cruzasse minha porta...



FIM DA PARTE II

domingo, 23 de maio de 2021

CONTOS ILLUMINATI PARTE 1

Depois um longo hiato, a gerência deste blog optou por contratar novos talentos e comissionar uma nova série. Sem mais delongas, Shadows Over Rokugan e algo mais (REVAMPED) apresenta...

CONTOS ILLUMINATI


I: O FIM DO COMEÇO


Brito Camacho.


Meu nome é Camacho. Brito Camacho. Durante dez anos trabalhei na força policial de Nova Vlaaza protegendo e servindo. Vestindo a camisa, orgulhando a força. Nada me trazia mais felicidade do que capturar um criminoso que se achava o espertalhão. O gatão. O graúdo. O tipo de cara que levantava o saco com as mãos e dava ele com tudo na mesa de sinuca para assustar os outros jogadores. Fui eu que solucionei o caso que a mídia chamou de "Cagador Misterioso", uma pessoa que invadia academias de Pa-Kua durante a madrugada e defecava no centro do tatame, para horror das turmas matinais. E foi assim que a polícia assinou um acordo de módulos com a rede nacional da arte marcial, resultando no recebimento de treinamento com desconto para toda a força. Eu mesmo tornei-me faixa preta em seis meses, um recorde.



Pa-Kua.

Mas isso é coisa do passado. Com os protestos civis alegando violência policial somados a um prefeito sedento por cortes de verbas, muitos bons policiais foram mandados embora. Enquanto a cidade lentamente caminha para saques e tiroteios a luz do dia, eu tento ganhar a vida como um detetive particular. Meu vizinho Praxedes às vezes comenta comigo no elevador do apartamento como a violência cresceu nos últimos tempos; dou de ombros. Minha parte eu fiz e se a sociedade não me quer, não sou eu que vou chupar-lhe  as metafóricas frieiras dos pés, implorando por um retorno que será recebido com zombaria ribombante.

Ser um detetive particular, ou DP como chamam no ramo, não é tarefa lá muito emocionante. O trabalho consiste em perseguir espertinhos que tentam dar calotes em seguradoras ou firmas de empréstimos, averiguar infidelidades de casais. E foi num desses casos que as coisas esquentaram... Quando ele entrou no meu escritório.


Dalton Fitzpeter.

-O... Olá?; Disse-me a calva figura, tentando esconder seu nervosismo.

-Bom dia, senhor.; Respondi cordialmente, enquanto me ajeitava na cadeira; E bem-vindo. Me chamo Camacho. Brito Camacho. Sente-se.

-Oi senhor Camacho. Eu sou Dalton Fitzpeter.

Ele estendeu a mão para me cumprimentar. Senti a pele mole e enrugada, levemente úmida de suor, sinais claros de um masturbador compulsivo. Após o toque imediatamente recuei minha mão para discretamente seca-la na calça.

-E o que o fez me procurar, senhor Fitzpeter?

-É... É... Que...

O homem suava em bicas, sentado desajeitadamente com as pernas cruzadas na poltrona frente a minha mesa. Levantei-me e mencionei ligar o ventilador de teto, ato que fez Fitzpeter produzir um grotesco sorriso de boca aberta. Não foram nem dois minutos de interação e já queria o sujeitinho repugnante fora do meu escritório. Fora da minha vida.

-Fale, Fitzpeter. Se você não me disser o que acontece, não poderei ajudar.

-É... A minha namorada, senhor Camacho.

Tive de virar-me rapidamente para a janela no intuito de esconder a gargalhada. A noção de que aquele homem tinha uma namorada era no mínimo cômica... Mas logo tornou-se deprimente. Afinal, desde que fui afastado da polícia não sei o que é o calor de uma mulher. Recomposto, tornei a encara-lo.

-E qual o problema? Infidelidade?

-Não, não!; Retrucou rapidamente Fitzpeter, abanando as mãos como se fossem leques para enfatizar a negativa; Ela sumiu faz duas semanas!

-E você não foi até a polícia? Me parece um caso para eles.

-Eu tentei, mas eles riram da minha cara, senhor Camacho. Riram!

-É verdade que a polícia está em maus lençóis, mas duvido que fariam algo assim, tão...

-Ah!; Interrompeu a impertinente criaturazinha; Eles falaram que não podem ajudar no caso de ser uma webnamorada.

-Web... Webnamorada?

Sim! Uma webnamorada é uma namorada que mantenho online.

-Oh.

Fitzpeter tirou o celular do bolso da calça e me mostrou uma foto.


Annie May.

-O nome dela é Annie May. Conheci jogando LoL e com a minha ajuda ela já tem as melhores skins do jogo!

-E você tem certeza que não é um homem de quarenta anos se passando por uma adolescente?

-Tenho! E ela não é uma adolescente, me garantiu que é maior de idade. Depois do LoL, eu me inscrevi no onlyfans dela e tenho várias fotos dos pezinhos e das axilas que ela deixa peluda só pra mim. Fico imaginando como deve ser o cheiro depois de... 

Percebi que as mãos do cliente estavam ficando trêmulas, o suor da careca escorria livremente em gotas gordas. Meu almoço começava a pedir para emergir pela minha boca em protesto àquela descrição. 

-Senhor Fitzpeter! Foco!; Falei com firmeza, tentando esconder o que poderia ter saído como uma súplica, não fosse meu treinamento no módulo de Pa-Kua  da calma transcendental.

-Oh, desculpe! É que amo muito meu amorzinho. Estávamos discutindo sobre levar a relação para o próximo passo...

-Morarem juntos?

-Fotos de ensaios eróticos.

-Ah.

-Eu fiz o primeiro depósito, mil moerdas, mas no mesmo dia ela sumiu da internet sem deixar rastro.

Mil moerdas... Mil moerdas. É bastante dinheiro para fotos de um simples ensaio erótico. Tendo todas as características de um masturbador compulsivo, pensei que no mínimo Fitzpeter soubesse da existência de pornografia gratuita na internet. Decidi deixar estas conjecturas de lado.

-Bom, senhor Fitzpeter. Eu precisarei de todas as informações que você possa ter desta "Annie May" no meu e-mail, bem como detalhes da sua relação, com explicação do que são essas palavras que você usou... LoL, skins, onlyfans... Para agilizar o trabalho.

-Então você vai aceitar o caso? URRUL!! 

O homem abriu novamente a bocarra deformada, resultando num sorriso monstruoso. Por um momento achei que fosse quebrar o maxilar, tamanha a abertura. Acho que cheguei a ouvir uns estralos nojentos.

-Calma; eu disse, interrompendo o júbilo semi sobrenatural de Fitzpeter; São duzentas moerdas por dia mais quaisquer adicionais necessários, que serão informados previamente.

-Duzentas moerdas? Mas que caro!

O sujeito que paga mil moerdas num ensaio erótico de uma total estranha sem pestanejar estava dizendo que cobro caro. Se for parar para pensar ele apertou minha mão, coisa que ele talvez nem sonhe em fazer com essa tal Annie May ainda nesta década, e foi de graça. A revelação de que eu fui mais íntimo com ele do que a própria namorada fez meu estômago dar voltas.

-...Mas acho que não tenho alternativa. Tudo bem, eu pago.

Fitzpeter fez menção de me cumprimentar novamente, mas dei um tapinha nas costas dele e o coloquei para fora do escritório garantindo que eu faria o melhor possível. Imaginei que seria um caso simples de identidade falsa e alguma pesquisa criativa me renderia um dinheiro fácil. 

Ah, como eu estava errado.

Foi assim que me meti no caso mais alucinante da minha vida.


FIM DA PRIMEIRA PARTE

quinta-feira, 4 de março de 2021

A logística do Senhor dos Anéis

AVISO: CONTÉUDO IMPRÓPRIO. LINGUAJAR CHULO E ESCATOLÓGICO (não é do tipo teológico).


 Logística do Senhor dos Anéis


Um Hobbit.


Estava eu em casa quando Gudomiro, amigo de longa data, jogador de RPG satanista, gamer, otaku e k-popper veio me visitar. Com um sorriso no rosto e uma camiseta de Star Wars, ele me cumprimentou:

-Vida Longa e Próspera, Reneguelson!

-E aí Gudomiro, beleza?

-Tudo fodendo legal. Acabei de terminar minha maratona semestral dos filmes do Senhor dos Anéis!

-Ah. Quer caçar tatu no mato?

-Hoje não, tava pensando em só papear.

Aquela expressão, "papear", encheu-me de calafrios. Estava com a sensação que teria de aguentar uma noite inteira do Gudomiro falando sem parar daquela porra de filme de criança enquanto enche meu pc com vídeos de kpop. Fazer o sujeito beber não adiantaria, pois com o álcool ele iria tentar me obrigar a fazer um personagem para algum daqueles rpgs malucos dele. Por dez anos tenho me esquivado de jogar esse negócio e não seria hoje que eu faria um boneco. Me restava começar a ouvir das peripécias de Legolas, pela centésima vez. Não. Hoje seria diferente. Hoje eu lutaria. 

Sentamos no sofá e Gudomiro começou, como quem não quer nada:

-Sabe, sempre achei que quem assiste casualmente senhor dos anéis não dá o devido valor para o papel do Sam.

-O hobbit né? Lembra quando me falasse da dieta deles?

Os olhos de Gudomiro brilharam.

-Claro! Tem o primeiro café da manhã, o segundo café da manhã e...

-Tá, tá. Eu queria te perguntar sobre disso.

-Como assim?

-Se não me engano eram tipo seis ou sete refeições por dia.

-Oficialmente são seis, mas no filme colocaram uma sétima. Achei uma alteração desnecessária do cânon, que...

Resolvi cortar antes que ele se empolgasse mais.

-Estava pensando na logística disso.

-...Quê?

-Um hobbit deve comer por dia o que uma família de sei lá, quatro ou cinco pessoas come. Onde eles conseguem tanta comida?

-As terras dos hobbits são férteis.

-Mas tanto assim? Lembre-se, é um mundo medieval, e a logística do plantio e crescimento deve ser levada em conta. Fora o tempo que levam para os animais crescerem e se reproduzirem. Eles não têm acesso a técnicas contemporâneas, agrotóxicos ou antibióticos, então uma praga animal ou colheita devastada por uma anomalia climática faria com que facilmente passassem fome no inverno. Fora a questão de preservação de comida!

-Mas é um mundo de fantasia...

-Ora, mas isso é relevante! Se a questão da comida é tão importante para eles. Os hobbits devem ter um segredo bem guardado, o do canibalismo.

-O quê?

-Pensa bem. É necessário apenas uma seca ou inundação para que o futuro de uma vila hobbit seja comprometido. Além disso, se eles não estão plantando ou cuidando de animais para se alimentarem, estão preparando e cozinhando comida, ou simplesmente comendo. Sobra pouco tempo para qualquer outra atividade, como caçar ou fumar os cachimbões de crack deles. É óbvio que quando falta comida, eles devem matar uns aos outros e comer da carne dos escolhidos.

Vi que Gudomiro começou a ficar nervoso.

-Já falei mil vezes que não é cachimbo de crack, porra! E não tem nada no cânone que fale de canibalismo!

-Não fala pois foi um negócio mal feito. Cheio de furos. É óbvio que os hobbits devem ter outros hobbits na dieta. E outra coisa que pensei agora...

-O quê, merda?

-Eles devem cagar pra caralho.

-...Quê?

-Imagina, eles passam o dia todo comendo. Devem largar cada barro fedido pelo condado e ficarem peidando e arrotando o dia todo. E como muitos deles comem restos e sobras, inclusive comida podre em tempos de penúria, o churrilho diarreico ocasional deve ser algo comum.

-Não sei como isso é relevante...

-Claro que é! É uma parte importante do cenário, se fores pensar. Eles devem ter que fazer paradas contínuas pra cagar durante a jornada do anel. E o condado...

-O que tem o condado, porra?

-Se os caras passam cagando o dia todo, o condado inteiro deve cheirar de merda. Pensa na fedentina que deve ser aquele lugar. Eles não parecem ter dominado a tecnologia do papel higiênico, se limpando constantemente com folhas, imagino. Tantas limpadas de cu por dia devem deixar o rabo do hobbit todo lixado, isso quando não acabam com todas as folhas e precisam andar cagados por aí. Se tu fores pensar na saga, Frodo e os amigos devem andar cagados, cheirando a cu e merda a maioria da jornada, para o terror dos companheiros.

-Vai te fuder!

-Pensa pelo lado bom: Se eles cagam tanto, o condado deve ser incrivelmente fértil, com todo o adubo que escorre pelo rego deles. Quem sabe não deve nem ser todo esse fedor nas casas. Eles provavelmente devem ter algum tipo de hábito de saírem pra cagar juntos nos campos para adubar. Imagina a vila toda, de tardinha, correndo pros campos pra cagarem. Deve ser inclusive uma atividade social bastante prezada, ficar falando do cheiro ou fazendo piadas fecais enquanto se aliviam. Acho que o Tolkien não deve ter explorado essa parte importante da vida social dos hobbits nos livros, o que é uma pena. Um monte de musiquinhas e nada da conversa de caganeira.

-Quer saber? Vai tu te cagar Reneguelson. Eu vou embora, me chama quando não tiver com essas ideias zoadas.

Alívio.

Esta batalha foi vencida, mas a guerra está longe de um fim. 


FIM




quarta-feira, 3 de fevereiro de 2021

MANIFESTO ESQUERDOMACHO

OBSERVAÇÃO: AS OPINIÕES NESTE MANIFESTO NÃO REFLETEM A OPINIÃO DA EQUIPE DESTE BLOG. ESSE TEXTO FOI ENCONTRADO NA DEEP WEB E ESTÁ CIRCULANDO POR AÍ. REPRODUZIMOS EM CARÁTER INFORMATIVO. A ÚNICA COISA QUE FIZEMOS FOI ADICIONAR UMAS FOTINHOS. 

-A DIREÇÃO

ALERTA DE GATILHO: MACHISMO, MISOGINIA, HOMOFOBIA, PALAVREADO CHULO.


Memórias de um esquerdomacho de militância


Esse sou eu. Trabalho atualmente como modelo de stock images em Los Angeles.


Bom dia, friends. Meu nome é Carlos Eduardo Flaubert D'Ellabatte, mais conhecido como Cadu. Fui escolhido pela board dos esquerdomachos veteranos para falar sobre a nossa carreira e dos problemas que passamos e comparar com as atividades atuais da nossa classe. Hoje o pessoal é muito de cancel culture e não sabe das questões de alguém que está nesse jogo por mais de vinte e cinco anos.

A PRIMEIRA COISA QUE DEVE FICAR CLARA, FELLAS: O ESQUERDOMACHO ATUAL TEM UMA VIDA MUITO MAIS FÁCIL QUE OS DA MINHA GERAÇÃO TIVERAM.

Para entenderem melhor, convido vocês a tomarem uma Cuba Libre e apreciarem a leitura deste manifesto. Os mais novos podem pedir para um empregado ler, pois sei que a alfabetização da gauche brasileira atual serve apenas para redigir tweets.


1.0 Relações com a esquerda tradicional




Quando comecei a militar, no finalzinho dos anos 90, nossa relação com a esquerda tradicional era complicada: nós éramos vistos como parasitas, burgueses afetados tentando infiltração no proletariado para corromper o propósito da revolução. Fingir pobreza não era uma questão estética, era de sobrevivência. Lembro o horror de ter que malhar na academia apenas para poder mostrar que eu tinha calos nas mãos, para simular contato com trabalho braçal. Se nós fizéssemos um dos nossos discursos de responsabilidade social da atualidade na melhor das hipóteses iam rir da nossa cara, na pior nos escorraçariam da reunião aos chutes.

Era então necessário vestir camisa do Che Guevara, ter uma bandeira da Venezuela em casa e defender a Coréia do Norte, além de um falso saudosismo pela União Soviética. O Capital de Marx, Cadernos do Cárcere de Gramsci, o Minimanual de Marighella e  Que Fazer? de Lênin eram leituras básicas. Saber um pouco de Hegel, Bakunin e Proudhon não fazia mal, entre outros. Apenas discursos inflamados sobre tomar os meios de produção e revolução armada surtiam real efeito. Era importante participar de células e reuniões, buscar informações sobre atividades de treinamento em lugares afastados e outras particularidades que não acho necessário divulgar aqui. Enfim, era trabalho duro parecer um camarada, todo um preparo antes de poder cair na noite atrás de xereca socialista.

Hoje a vida do esquerdomacho é muito mais fácil. Não precisa nem ler ou ao menos saber esses nomes. Usar chavões como Foucault ou Necropolítica basta. Não somos mais "inimigos do proletariado tentando minar a revolução", nós SOMOS a revolução. Agora é nossa vez de olhar atravessado para os tradicionais e condená-los por sua truculência, racismo, transfobia, gordofobia, ableismo e homofobia. Concordar e aplaudir qualquer minoria, perdão, minorie ou mulher é suficiente para faturar aquela xavascuda atiçada.

Melhor ainda, hoje não precisa realmente militar, colocar a cara na frente dos tiras, tomar porrada de graça e ter ficha na polícia. Você só precisa fingir que tem vergonha de não fazer parte de alguma minoria ou gênero não-binário e demonstrar que é um verdadeiro aliado. Militar custa dentes, se humilhar rende pepequinhas.

Sobre a cultura do cancelamento: Sempre existiram expurgos. Lide com isso,  babe. É a única coisa que não mudou,  nunca vai mudar e é parte integral da nossas relações. Então be smart, keep your cool. Na minha época era apanhar, não poder entrar mais em lugares, ou ver as mesmas pessoas. Na época de vocês é gente contando para o papai internet que alguém se comportou mal. Muito melhor.


 2. Caçada ao Outubro Vermelho




Quando pequenos e médios empresários perceberam que o público GLS, agora conhecido por LGBT+, não tinha seu nicho de entretenimento nos anos 2000 eles lançaram as casas e baladas LGBT+ por preços absurdos, este sendo nosso principal campo de caça. Como simpatizantes, íamos no ambiente onde as mulheres frequentavam basicamente por poderem dançar sem receber cantadas a cada cinco minutos para investirmos pesado, pela pouca concorrência. Nosso principal problema eram os guarda-costas, como chamávamos os amigos gays das moçoilas. Os guarda-costas sempre ficavam nos bloqueando e impedindo nosso avanço. Cockblockers. Às vezes era necessário criar táticas para passar pelo gaiola de pomba, como pedir a um esquerdomacho para entretê-lo enquanto outro atacava a mulher. Alguns dos nossos tiveram que apelar para estratagemas extremos, como entrar em beijos triplos ou mesmo ter que ficar boa parte da noite tomando flertes do guardinha. Era um verdadeiro campo de batalha.

Agora é só sentar num bar e falar coisas vagas sobre a situação do mundo e o que alguém, não sabemos quem, deve fazer para acabar com os fascistas ou de maneira cada vez mais infrequente, com o capitalismo. Uma boa apresentação nas primeiras rodadas garante possibilidade de ajuntamento numa festinha posterior ou mesmo ir para a casa de alguém escutar uns vinis ou fumar um baseadinho. Aí é só abrir a boca do crocodilão. 

Outras interações dignas de menção: cinefilia, poesia, tocar violão. Na minha época, era um adicional que poderia abrir alguns caminhos. Hoje, é como se fosse um pós-doutorado em botação de pau. Mais uma vez, os esquerdomachos de hoje não sabem como a vida deles é fácil, comparada à nossa.


3.0 Relações Líquidas



Um dos principais problemas para o esquerdomacho veterano consistia no frágil equilíbrio entre a pegação e a imagem pública. Por sermos diferentes dos cis héteros comuns, ainda atrelados a uma ideia de camaradagem revolucionária, não podíamos ficar atirando para todo o lado. Ao dar um cato firme numa xotinha, tínhamos que ficar um tempo com ela para não sermos vistos como boys putanheiros riquinhos. As traições tinham de ser discretas e uma pegada casual para os solteiros não poderia ser frequente ou poderia manchar a reputação com as novinhas, dependendo do pensamento delas. Marretar uma buça ou não: eis o dilema de nossa representação.

O esquerdomacho do século XXI não precisa mais se preocupar com isso. Algum gênio promoveu os conceitos de poliamor, relacionamento aberto e pegação irrestrita. Com a liquidez dos relacionamentos, não é mais necessário se preocupar com o que os outros vão achar, só botar pra dentro e depois dar no pé.


EM RESUMO: NÓS, ESQUERDOMACHOS DA GERAÇÃO PASSADA, CONSTRUÍMOS AS BASES PARA QUE OS NOVOS POSSAM TER UMA VIDA MUITO MELHOR. JOVENS, TENHAM CONSICÊNCIA DE CLASSE E VÃO À LUTA. CONSTRUAM UM MUNDO AINDA MELHOR PARA OS PRÓXIMOS ESQUERDOMACHOS, PARA QUE POSSAM DIZER, ASSIM COMO EU, COM ORGULHO, QUE PASSARAM POR DUROS MOMENTOS DE GUERRA. ESQUERDOMACHOS DO MUNDO, UNI-VOS!

-Cadu

PS assinem meu onlyfans onde dou dicas e muito mais.