domingo, 16 de janeiro de 2022

FILMES DE SUPER HERÓIS

Uma breve história sobre super-heróis
 


A personagem Ruiva Collant ou algo assim, não assisto esses negócios.

Esses dias, meses talvez, me convidaram pra assistir um filme de super-herói. Não sei, acho que era o do artista marcial dos anéis mágicos ou bobagem do tipo. Um personagem de oitava categoria que acharam perdido nas propriedades da Marvel pra fazer uns milhões usando a mesma fórmula de filme dos últimos quinze anos: história de origem, piadas da praça é nossa, referências, super batalha de computação gráfica e cenas pós-créditos. É o que dá pra fazer, puxar do fosso qualquer coisa que já não foi explorada exaustivamente na esperança que cole na mão de um ator com carisma maior que o de uma porta. Claro, até o próximo reboot pra fazer a nova versão dos vingadores vingar até 2035.

Não tem problema gostar de rotina de entretenimento, tem gente que gosta de rotina de trabalho. Acho até saudável neste cenário pandêmico ficar em casa assistindo super-heróis do fundo da lata do lixo por mais uns anos até o novo filme do Homem de Ferro ou Capitão América. E eu confesso que estou curtindo a raspa do arroz da panela de super-heróis em ênfase: Imagine um mundo onde milhões assistem um seriado do Loki. Se isso não é poder corporativo, o de transformar um vilão de quinta categoria dos gibis numa sensação, não sei o que é.

Mas até agora o melhor filme que não vi é o último Esquadrão Suicida, que parece que pegou umas propriedades da DC que não viam a luz do dia desde os anos 60 de tão medíocres. Só estou esperando para ser chamado pra ver um destes filmes de personagem porcaria de novo. 

Já imagino como será:

-E aí, vamos ver o filme do Cavaleiro Anal?

-Quem?

-Não conhece cara? O Adam Driver vai interpretar! Tá pela internet toda!

-Ah, então é isso esses vídeos circulando do cara que fez o Kylo Ren peidando raios.

-Não é um peido, cara, é o poder do Cavaleiro Anal! Ele tomou uma injeção do governo americano e seus glúteos ganharam poderes cósmicos! Toda vez que a bunda bate palma, soltam explosões!

-Mas de onde tiraram isso?

-Do filme da Sobrancelha Humana, ele aparece. Sempre fui fã da Sobrancelha Humana e do Cavaleiro Anal, tive uma ereção quando vi o Adam Driver com a roupa nos prós-créditos.

-Que Sobrancelha Humana cara?

-É a Emilia Clarke do Game of Thrones, ela interpreta a Sobrancelha Humana, que apareceu no pós-créditos do terceiro filme das Guerras Intermináveis, onde o Shang Chi e o Punho de Ferro derrotaram o Thanos na realidade alternativa.

-Tá, vamos ver essa porra de Marechal Anal aí.

-É Cavaleiro Anal!


O FILME






Adam Driver é o soldado Knight A. Nall, recrutado dos esquadrões da morte americanos que operavam no Afeganistão para um projeto secreto da CIA. Como todos os heróis da Marvel, ele é um cara meio piadista, meio sacana, mas com um bom coração, pois não matou crianças afegãs quando teve oportunidade, contrariando ordens diretas. Recebe uma injeção num laboratório da STARK, que causa dedo no cu e gritaria da maioria que assiste o filme pela referência. Piadas estilo praça é nossa. Pessoas assistindo gargalham como se fosse a coisa mais engraçada do mundo.


Após a injeção seus glúteos batem palmas em computação gráfica e soltam raios destrutivos. O experimento foi um sucesso. Por causa de uma única cena de um minuto no começo do filme onde ele aparece lendo um livro sobre história medieval, ele escolhe ser o  Cavaleiro Anal. Samuel L. Jackson reprisa o Nick Fury dizendo que o herói deve lutar contra uma nova ameaça, o Abominável Rolha. O cinema quase vai ao chão com gente gritando ao ver o Nick Fury. Numa das fileiras do cinema, uma mãe recebe um tapa na cara de um filho hiperativo que não se controla durante a cena. Piadas estilo praça é nossa. Pessoas assistindo gargalham como se fosse a coisa mais engraçada do mundo.

O Abominável Rolha, interpretado por Al Pacino, era um enólogo que gostava de cheirar as rolhas dos vinhos. Uma dessas rolhas era radioativa, o que lhe concedeu o poder de criar rolhas de energia e ele usa esse poder para o mal. Abominável Rolha usou seus poderes para bloquear a fronteira com o México e impedir a imigração ilegal, para ter um comentário político e mostrar que o filme é relevante e não só um produto corporativo qualquer. Cavaleiro Anal vai enfrentar o vilão e se segue um diálogo com piadas estilo praça é nossa. Pessoas assistindo gargalham como se fosse a coisa mais engraçada do mundo. Então começa uma grande batalha de computação gráfica que ocupa metade do filme.

No momento dramático, Abominável Rolha acerta em cheio uma rolha de energia no meio do rabo do Cavaleiro Anal, que fica impedido de bater os glúteos e soltar raios. Agora ferrou tudo, a tensão é grande. Adultos choram nas poltronas do cinema, com medo de que o Cavaleiro Anal perca este combate. Imagens de imigrantes mexicanos desesperados, de Donald Trump tomando sangue de virgens num cálice feito do crânio de um bebê, de Nick Fury vendo a batalha por câmeras. Rolha faz seu discurso de vilão e parte para o ataque final. E toma uma sobrancelhada na cara, tal como uma chicotada.

É a Sobrancelha Humana que aparece para salvar o dia! Música orquestrada esperançosa, reações de alívio dos imigrantes, de Nick Fury, de ódio do Trump. O cinema é uma gritaçada sem tamanho. Adultos levantam-se das poltronas batendo palmas, alguns com os glúteos em homenagem ao herói do filme, causando uma salva de peidos. Close na Sobrancelha Humana, que faz uma piada estilo praça é nossa. Pessoas assistindo gargalham como se fosse a coisa mais engraçada do mundo. Então sua sobrancelha de computação gráfica, tal como tentáculo, arranca a rolha do rego do Cavaleiro Anal, que bate os glúteos de maneira tão violenta que solta um Kamehameha do cu e derrota o Abominável Rolha.


Piada estilo praça é nossa. Pessoas assistindo gargalham como se fosse a coisa mais engraçada do mundo. O filme chega ao fim, e é hora dos pós-créditos. Meia hora de letras passando, e então aparece Buceta Humana, causando furor incontrolável nas pessoas assistindo. E ao final, na última cena, somente a silhueta de um enorme caralho, que vibra ameaçadoramente. As pessoas no cinema vão a loucura, pois aquela só pode ser a sombra do Super-Vilão Ômega Vibrador. Tudo é sangue, tudo é insanidade: pessoas rasgam suas roupas e uivam para a tela do cinema ao perceberem que Buceta Humana e Ômega Vibrador terão seus filmes; outros quebraram os pulsos de tanto baterem palmas, mas isso não impedem que continuem; uma velhinha é pisoteada por gente correndo pelo cinema e muitas poltronas estão encharcadas de sêmen, de tanto que o público ejaculou com os pós-créditos.


Em suma, uma experiência padrão de ir ver filmes de Super-Herói.