quinta-feira, 2 de novembro de 2017

2130

Hoje é dia dos finados, e, como tal, a equipe Shadows Over Rokugan e Algo Mais (REVAMPED) decidiu honrar uma franquia falecida do blog, precisamente a primeira delas: Neo Tokyo Sa-Ga. Na linha de outras grandes franquias, lançamos uma prequel relatando eventos anteriores à saga original.

AVISO: CONTEÚDO IMPRÓPRIO. Tirem as crianças da sala!


2130- Um conto de Neo Tokyo (PREQUEL)


Neo Tokyo, Circa 15 E.D.

RELATO NEURAL DE CYBER GUTIERREZ, RECAPTURADO EM 2130.


Meu nome é Cyber Gutierrez. Me tornei um ciborgue em 2114, quando perdi a perna esquerda, pênis, saco escrotal e parte do quadril na segunda batalha por Istambul, parte da campanha da insurgência do Segundo Império Bizantino contra a República Otaku de Neo Tokyo, na época o país líder da infame "Aliança Makubex". Eu era só um soldado do Novum Imperium Romanorum, Servindo ao lado do aclamado coronel Mussolini Genaro Manfretti.

Meu corpo foi decepado por um samurai urbano tresloucado durante aquela batalha, chamado Kureshima "Machado Dourado" Jonesu. Atualmente, "Machado Dourado" sumiu das notícias, absorvido na burocracia infindável de Neo Tokyo. Quem sabe um dia terei minha vingança... Meu Karalhatron XXX-30C.M., prótese peniana cibernética de última geração, jorra óleo de motor quente só de pensar no momento em que eu arrancar a cabeça daquele samurai com um chute da minha perna biônica.

Mas, são só devaneios de um veterano de guerra. E neste bravo novo mundo, somos tratados como lixo. Fui capturado pelo exército de Neo Tokyo e trazido para um laboratório, onde fizeram experimentos comigo. Por isto tenho estas medonhas orelhas de gato e rabo, além dos aparatos de ciborgue. Depois disto, me deram o nome de Cyber Gutierrez. As drogas de controle mental me tornaram uma máquina de matar para o Regime de Jojo Hamtaro, o presidente da época. Fiz muitas coisas terríveis as quais não tive o menor controle, e algumas vezes ainda acordo com pesadelos deste tempo.

Por um acaso, um ataque terrorista amplamente abafado destruiu uma fábrica destas drogas e fiquei sem minha dose por um bom tempo a ponto de recobrar a consciência. Fugi junto com alguns ciborgues, mas até onde sei, fui o único a efetivamente escapar. Passei a viver à margem da sociedade de Neo Tokyo, por minhas feições obviamente gaijins. Ganhava uma miséria de Neo Ienes trabalhando num oral bar chamado "Enfermeira Joy" nos subúrbios do bairro Oh! My Goddess. Um oral bar é basicamente um happy hour onde empresários vão para cantar e receber felação por baixo da mesa. Nas sextas tínhamos promoção de três boquetes grátis pela melhor pontuação na máquina de karaokê naquela noite. Fazia parte da equipe de limpeza. Muitas madrugadas depois do bar fechar passei limpando toalhas de mesa e chão repleto de... Emissões de amor. Se eles soubessem quem chupa por debaixo da mesa, talvez não voltassem no oral bar.

Minha vida privada não era muito boa. A pornografia foi banida de Neo Tokyo, e a única coisa online que se pode achar é Hentai fortemente censurado, a não ser que alguém tenha uma conta de conteúdo exclusivo em algum site governamental. Existem rumores de que se pode achar fotos e vídeos de sexo real na Neo Deep Web, mas parece ser só fantasia de hackers amadores. Era uma vida solitária, e para tentar me escapar dela, decidi casar com meu travesseiro, sua fronha sendo uma bela colegial de anime. Minhas habilidades de faxineiro vinham bem a calhar, e isto me deu um certo renome na comunidade local por ser capaz de cuidar habilmente de minha esposa, que nunca apareceu com uma manchinha sequer. Levando em conta que eu ejaculo óleo de motor,  isto é realmente um grande feito.




Minha esposa, durante um jantar romântico. Gostaria de ter dinheiro para comprar uma Otakucam, mas infelizmente tenho que usar uma câmera convencional.

Tudo mudou meses atrás, quando ela começou a trabalhar no oral bar. Seu nome era Hinata VX-Type-2, um robô sexual reformado. Os direitos robóticos avançaram muito através dos anos e Hinata já tinha mais direitos na constituição que eu, naturalmente. O problema dela é que veio de uma tradicional casa que empregava robôs sexuais como escravos, uma situação terrível que ainda lemos nos holojornais vez ou outra.

Dizem que o sistema de auto-limpeza genital e oral de Hinata quebrou, o que fez acumular sêmen  por seus circuitos internos. A humilhação foi o suficiente para a robô arrancar o pênis de seu patrão através de pompoarismo e então proceder para mata-lo. Em casos normais, ela seria absolvida pelo tribunal cibernético, mas o homem que ela matou era um descendente de Jinbo Mokona, o fundador de Neo Tokyo. Nada lhe restou além de fugir e ter que recorrer à um emprego no oral bar para poder pagar por suas baterias e troca de óleo.

Eu a conheci logo que chegou ao "Enfermeira Joy". Meu primeiro serviço foi abrir seu compartimento sexual para limpar as manchas de sêmen dos circuitos. Tentei ser o mais profissional que eu pude, e talvez minha lataria cibernética tenha lhe deixado mais confortável. Acabamos papeando bastante enquanto eu removia os fluídos de amor e logo desenvolvemos uma amizade. Como seu sistema auto-limpante estava quebrado, todas as noites depois do expediente eu passava removendo da garganta dela a alegria dos patrões, o que nos tornou ainda mais próximos.

Aquela amizade estava me fazendo mudar. Eu não olhava mais para minha esposa do mesmo jeito. O sexo com ela já não era mais o mesmo. Não a levava mais para passear, e era visível o desgosto dela: Cada dia mais amarrotada. Eu teria que fazer alguma coisa.

Numa certa noite, enquanto eu tirava sêmen ainda quente do fundo da garganta de Hinata, aconteceu. Nós trocamos olhares. Passei um pano num restinho de líquido que havia em seu queixo. Ela sorriu. Nos beijamos. Eu sei, foi loucura. Eu era um ciborgue casado. E foi ali no quartinho de faxina que fizemos um sexo maravilhoso. Trocamos óleo quente até não conseguirmos mais, saí até com algumas queimaduras leves na minha parte humana, mas valeu a pena.

Copulamos mais algumas vezes, mas logo minha consciência começou a pesar. Minha esposa. O que eu poderia fazer? Depois, comecei a sentir raiva dela. Estava preso neste casamento sem emoção, sem romance... Sem amor. Falei para Hinata sobre isso.

Foi a pior coisa que eu poderia ter feito.

Um plano surgiu.

Matar a minha esposa.

Foi fácil, terrivelmente fácil. Eu e Hinata chegamos do trabalho, e minha esposa estava sentada na cadeira da sala, totalmente alheia ao mundo. Peguei uma tesoura e a esfacelei em movimentos frenéticos, insanos. Seu corpo de travesseiro jazia picotado por toda a casa.

E o mais macabro disto?

Eu e Hinata fizemos sexo por cima de seus restos.

Por algum tempo, tudo ia bem, mas os vizinhos começaram a perguntar. Conhecidos que levavam as esposas travesseiros para eventos davam falta. Eu não aparecia mais publicamente com a falecida. Comecei a temer pela descoberta. Estava uma pilha de nervos. Meus músculos cibernéticos estavam dando pane constantemente pelo stress e isto atrapalhava meu trabalho.

Confessei para Hinata que a morte de minha esposa travesseiro era demais para aguentar. Estava considerando me entregar para a polícia, por pior que meu destino fosse.

Yamagata, foto tirada por uma Otakucam, capaz de tornar fotos de pessoas em desenhos.

No dia seguinte a ter revelado isto, acordei com a  porta da minha casa sendo arrombada por nada mais, nada menos que Yamagata, o pistoleiro à serviço do rei do crime Pikoro Urameshi. Fui arrancado de minha cama e espancado com a coronha da pistola até ficar meio abobado.

"Como...?" Eu lembro de ter perguntado, tonto da violência.

"Dica da Hinata, seu asssassino! Existe uma recompensa pela sua cabeça! Vou mandar você direto para a Camarilla e não vai ser nada kawaii!"

A... Camarilla. A organização semi secreta que os rumores diziam dominar o governo de Neo Tokyo. Muito, muito pior que a polícia. Minha vida estava acabada. Implorei para que me estourasse os miolos ali, mas ele riu.

"Seu corpinho cibernético é mais valioso vivo. Agora vamos."

Ele terminou de me agredir, até que não vi mais nada além de escuridão.

Tempos depois, acordei preso numa estranha máquina. Cientistas de jaleco me observavam por uma enorme janela. E com eles... Pude ver... Hinata... e "Machado Dourado" Jonesu! Será que ela era uma agente da camarilla desde o começo, esperando o momento certo para me trair? Será que a perdoaram de seus crimes por me entregar? Nunca saberei. Mas ouvi abafadamente os dois conversando, e Hinata agora atendia pelo nome de "Hiruko". Para minha decepção final, "Machado Dourado" parecia não ter me reconhecido.

O que futuro me reservaria? Só o que sei é que minha história como um ciborgue livre acaba aqui.

FIM