quarta-feira, 1 de abril de 2020

Certo dia no Apocalipse Viral

Certo dia no Apocalipse Viral- Parte I



Corona-Chan, em toda sua glória.


AVISO: CONTEÚDO IMPRÓPRIO. LINGUAJAR CHULO E SITUAÇÕES APIMENTADAS. HUMOR ÁCIDO E DE MAU GOSTO. TIREM AS CRIANÇAS DA SALA.


Pow. A rebordosa dessa vez foi selvagem. Depois que ajudei a organizar a copa do mundo de 2014, descobriram que a falta de internet seguida do apagão no estádio do Maracanã foi falha do seu Valdir. Eu paguei duzentos conto pra ele fazer a fiação e instalar a internet, preço muito acima do mercado, e ele me dá uma dessas! O pior foi que aqueles cartolas filhos da puta, ao invés de punir o responsável, jogaram toda a culpa em mim, que só paguei o seu Valdir. Sacanagem. 

Antes que eu pudesse fugir do país com o dinheiro que sobrou do contrato da fiação, a polícia federal me pegou. Lançaram uma investigação e logo souberam que comprei uns quilinhos de pó na fronteira. Eu disse que era pra consumo, mas não acreditaram. Depois descobriram que eu tava no dia que o Colisor de Hádrons deu pau e que eu posso ou não ter sido responsável pelo vazamento da usina de Fukushima. Falei que foi tudo culpa do meu colega de emprego, mas eu não lembrava mais o nome dele. Quando eu disse que ele era tipo o Dhalsim só que de bigode, ainda me tocaram uma acusação de racismo pra fechar com chave de ouro. Só me fodo nessa merda.

Consideraram reabrir o tribunal de Nuremberg especialmente pra mim, mas felizmente eu tinha uma carta na manga: o telefone de São Raposo, o patrono dos heróis, advogado mundialmente conhecido. Por acaso quando eu estava em Marrocos negociando armas em 2008 eu topei com ele numa orgia e ele me deu um cartão laminado com o telefone dele que até hoje eu usava como arma de corte quando a coisa apertava.

São Raposo é tão fodanchado que até conseguiu manter o assunto longe da mídia, os arquivos do caso guardados no codex proibido do Vaticano. Mas mesmo assim acabei pegando duzentos anos de cadeia em segurança máxima numa solitária. Pelo menos não me executaram, então tá bom.

Só sei que nesse tempo todo preso, desde 2014, quebrei meu braço umas três vezes de tanto bater punheta. Não tinha muita coisa pra fazer trancafiado, além de praticar arte fecal nas paredes, claro. Uma das minhas pinturas foi inclusive fotografada pelo psiquiatra do cadeião e ele vendeu a foto para o Louvre, com o nome de "Merde du jour", e fez uns milhões nas minhas costas. Eu jurei que a primeira coisa que eu ia fazer se eu saísse daqui um dia seria caçar o Doutor Praxedes pra pegar minha grana da pintura. Justo meu primeiro trabalho totalmente dentro da lei, e me passam a perna!

Até que em março de 2020 minha sorte mudou. Chegou um cara com uma roupa anti-radiação na solitária querendo bater um papo comigo.Já perguntei:

-E aí camaradagem, qual vai?

-Senhor... Mocassino?

-Isso mesmo, chefe. Valdisnei Mocassino, ao seu serviço!

-Me chamo Jacinto Bulhões de Carvalho, adeivogado do ministério da justiça.

-Prazer, carvalhudo.

-Não sei se o senhor sabe, mas estamos com uma pandemia no mundo. Corona-chan virus é o nome e já infectou, de acordo com os dados oficiais, "Um putilhão de pessoas'.

-Tabaco, heim?

-A situação é séria... E queremos saber se o senhor é o responsável.

-De que jeito, homem?

-Seu... Talento para "foder com o mundo", acredito que este seja o termo oficial usado no site da CIA, é temido e até mesmo adorado por todo o globo.

-Adorado? Sério?

-Sim, o Mossad teve que desmantelar um culto em Birigui, São Paulo, que lhe ovacionava tal como um Deus. Lá encontraram muitas armas e cocaína.

-Já se vê que essa gente não me conhece! Essas coisas são pra vender, não pra usar. Pode me passar o telefone deles? Quem sabe posso dar uma mão.

-Absolutamente não! E não desvie da conversa, queremos saber se você está por trás do Corona-chan vírus.

-Minha formação é de astrofísico e engenheiro nuclear, não sei nada de vírus.

-Mas é certo que o senhor mantinha uma rede de contrabando de animais selvagens com contato direto com o mercado negro da China, não é?

-Não sabem como foi difícil enfiar um celular no cu e fazer um gato aqui na solitária pra recarregar a bateria. Eu tava só juntando uma grana pra quando sair daqui e ter como me levantar, sabe? Pegar um trabalho honesto, casar, ter filhos...

-Pois saiba que o senhor pode ser responsável pelo Corona-chan, ou não. Não temos como confirmar. Então é por isso que estou lhe questionando da natureza do seu negócio.

-Ah, cara, e eu vou saber? Só joguei a grana na mão dos caras pra eles tocarem o negócio e acompanho meu saldo de bitcoins, que é pra não dar nas vistas. Agora é só criptomoeda que minhas contas nas Ilhas Caimã foram bloqueadas.

-Certo. Então não sabe que tipo de animal era traficado?

-Sei lá, cara. Mangusto, pelicano, mastim napolitano, pangolim-mirim, naja de sete cabeças, morcego vampiro da Romênia... Essas parada. E essa roupa aí de anti-radiação? O Corona-chan é brutal assim?

-Não, gripezinha. Estou usando é pelo cheiro desta sua cela, de paredes cobertas de fluídos de prazer e excremento artístico.

-Sabe que eu me acostumei?

-Tá, tá bem, Valdisnei. O senhor tá liberado. Mete o pé.

-Sério? Posso vazar?

-Estão liberando os presos por causa da Corona-Chan, e o seu adeivogado, o São Raposo, achou uma brecha para te colocar na rua.

-Abençoado seja São Raposo!

-Mas vai ter que usar uma tornozeleira e um drone senciente vai te acompanhar até acabar a praga.

-Show.

E foi assim que eu consegui sair da cadeia. Mr. Roboto até que é um cara legal, para um drone senciente. Ele tem um compartimento com um canivete suíço, que usei pra me livrar da tornozeleira. E agora que estou na rua, é hora de entender o que é essa praga que eu posso ou não ter causado, e mais importante, ir atrás do Doutor Praxedes pra conseguir o dinheiro da minha pintura excremental, pois eu, Valdisnei Mocassino, sou brasileiro e não desisto nunca!



Mr. Roboto, drone senciente.

Fim da Primeira Parte


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